segunda-feira, 9 de março de 2009

Tenda na Praça da Liberdade promove batismo na web


Junia Oliveira - Estado de Minas


As mãos controlam o mouse enquanto os olhos atentos se fixam na tela em busca das ferramentas básicas do computador. Programas e acessórios são descobertos com entusiasmo pela aposentada Maurina de Abreu Rezende, de 65 anos. A moradora do Bairro Planalto, na Região Norte de Belo Horizonte, saiu de casa, na manhã de sábado, para um importante compromisso, na Praça da Liberdade, Região Centro-Sul da capital: aprender a lidar com o mundo digital para um propósito bem maior. “Quero mexer na internet para fumar menos. Já fiz de tudo, mas não consigo parar. Pensando mais, vou rejuvenescer em vez de envelhecer”, disse. Assim como Maurina, várias pessoas de BH e do interior receberam as bênçãos do mundo digital e foram “batizadas” em plena praça pública.
O evento ocorreu durante todo o dia, numa tenda armada em frente ao Palácio dos Despachos, uma estrutura equipada com 50 computadores e 100 monitores treinados para ajudar os interessados em dar os primeiros passos no campo da informática. O “batismo digital” é uma iniciativa inédita em Minas, resultado da parceria entre Secretaria de Estado de Ciência, Tecnologia e Ensino Superior (Sectes), Ministério Público e lan houses. A mobilização de sábado envolveu a participação de 58 Centros Vocacionais Tecnológicos, 457 Telecentros e cerca de 50 lan houses.
Foram oferecidas duas modalidades. A versão 1.0 deu noções básicas do computador para navegantes de primeira viagem, que nunca tiveram contato com a internet. A 2.0 foi destinada àqueles que já conhecem a web, navegam com facilidade, mas não têm tanta intimidade com as suas ferramentas e potencialidades. O público teve acesso ainda a uma série de oficinas, que abordaram temas como internet segura, programas de inclusão digital do governo estadual e o uso da web para a promoção de negócios e inovação.
Segundo Marinella Impelizieri, diretora de Desenvolvimento e Ensino da Subsecretaria de Inovação e Inclusão Digital, ligada à Sectes, a proposta é tornar o projeto itinerante e ampliar as ações. “Inicialmente, o foco era inserir as pessoas no mundo digital. Hoje, queremos ir além dessa ‘alfabetização’ e promover o batismo 2.0, que é a apresentação de ferramentas para trabalhar a inovação e a tecnologia”, afirmou.
Para o presidente da Associação das Lan Houses de Minas Gerais (Almig), André Rubens Simões, o evento é também uma oportunidade de ressaltar a imagem positiva das lojas do ramo: “Hoje, 50% do acesso à internet no Brasil é feito nas lan houses. Em todo segmento há aqueles que não praticam o bem e, aqui, temos a oportunidade de explicar como filtrar isso”. Segundo ele, BH tem 560 lan houses associadas, mas a estimativa é de que haja 93 mil em todo o Brasil, das quais 10 mil em Minas. “É um lugar de uso rápido, fácil e com a assessoria do dono, que pode ajudar quem está usando o serviço”, relatou.
E foi essa a dica que o estudante Naan Santos Andrade, de 15 anos, deu ao seu aluno Francisco Rezende Filho, de 62. O técnico em eletrônica, que não tem tempo de fazer um curso longo por causa do trabalho, está em busca de algo prático e eficaz: “Conheço tudo de equipamentos de áudio e vídeo, mas sou nota zero em matéria de computador”. O garoto, monitor voluntário, ajudou Francisco a entender um pouco mais sobre os mistérios da rede mundial. “Como ele está mais interessado em pesquisar na internet, acho que a lan house é um lugar bacana para aprender, porque tem muitas máquinas e instrutores para explicar”, disse Naan.
Durante o batismo, outro aspecto estava evidente: não importava a idade para aprender nem para ensinar. O universitário Bruno Augusto Teixeira, de 19, aproveitou o sábado longe da faculdade para, durante alguns minutos, ser o responsável pelo primeiro contato de muitas pessoas com a era digital. “É uma forma de passar os meus conhecimentos a quem não tem e isso é muito legal”, destacou. A estudante Cristiane Bruna da Costa, de 17, também gostou da experiência e, com paciência, ensinava Iago da Costa, de 9 anos, que não consegue imaginar a vida sem o computador, a navegar por um site de buscas e a usar o e-mail. “Gostei muito do curso que fiz no Comitê de Democratização da Informática (CDI) e gostaria de passar para a frente o que me foi ensinado”, ressaltou Cristiane.

Publicado no Estado de Minas no dia 08 de março de 2009.

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